Quando uma ponte surpresa aparece no caminho, bem naquele lugar em que o mapa apontava um precipício, os peregrinos vão se aglomerando na beirada e começa a discussão: quem colocou aquela ponte ali? Ela vai mesmo encurtar o caminho? Ela é segura? Quantos de nós conseguimos passar ao mesmo tempo? Não é melhor seguir pela beirada e pelo trajeto mais longo? Alguém levanta a mão e diz: eu vou atravessar para ver no que dá! Sempre tem um ousado (ou corajoso) que assume o risco e segue em frente.

Diante do cenário de recessão profunda, quase depressão, desemprego em alta e caos político, mesmo quando algum indicador mostra que aconteceu uma acomodação aqui ou acolá, fica difícil admitir que ela é consistente e sinaliza uma curva no caminho. O economista chefe do Bradesco jogou todos os números disponíveis num modelo e encontrou “a ponte” no confuso mapa da economia brasileira. Em um relatório enviado a clientes nesta sexta-feira (03), Octávio de Barros apresentou uma revisão considerável em sua projeção para o crescimento do PIB em 2016: a queda será menor – de 3%, e não mais de 3,5% da projeção anterior.

Octávio de Barros resolveu desbravar a travessia daquela “ponte” assumindo os riscos embutidos na revisão de uma expectativa tão importante, representando um banco do tamanho do Bradesco, num ambiente em que outros “grandes” do mercado nacional e estrangeiro ainda regulam suas previsões para pior e não o contrário. Foi o que aconteceu nesta semana com a OCDE, num exemplo bem recente, que está mais pessimista e projeta queda mais profunda de 4,3% e de 1,7% do PIB para 2016 e 2017, respectivamente. Octávio de Barros pode não estar sozinho na percepção de que a recessão deve perder força a partir do segundo semestre, afinal, já no último relatório Focus, a média esperada pelos 100 analistas ouvidos pelo BC baixou de 3,83% para 3,81% para o tombo do PIB este ano.

No entanto, o economista do Bradesco partiu sozinho para travessia da “ponte” com um prognóstico mais ousado na intensidade esperada para melhora.  O ponto de partida da análise de Barros foi a alta nos indicadores de confiança apontada nas coletas de abril. Outros dados também contribuíram para o resultado menos pessimista: queda dos estoques da indústria e do comércio, melhora dos preços de ativos financeiros, fluxo pedagiado nas estradas, emplacamento de veículos, vendas nos supermercados, entre outros.

“Desde o início do ano, os indicadores de atividade têm surpreendido positivamente, sugerindo uma estabilização da economia mais rápida do que o antecipado. A leitura dos indicadores é de que já devemos ver uma estabilização do PIB no segundo trimestre. De fato, projetamos agora variação nula do PIB na margem no segundo e terceiro trimestres, e uma expansão de 0,2% no último trimestre do ano. Para o ano, projetamos queda de 3,0% (anteriormente, projetávamos queda de 3,5%)”, diz o documento do banco.

No relatório enviado aos clientes, o economista do Bradesco afirma que o consumo das famílias vai seguir no campo negativo por mais um trimestre, mas deve se estabilizar a partir de julho – a despeito do desemprego. A redução da taxa de juros esperada para os próximos meses vai ter um papel importante para melhora das expectativas e da credibilidade do Banco Central. Outras variáveis econômicas fazem parte deste cenário construído por Octavio de Barros, mas, essencialmente, ele já enxerga um giro diferente na economia, que pode levar o país a caminhar lentamente para um ciclo mais positivo.

“Entendemos que o consumo se encontra, hoje, em patamar muito reduzido, em parte por justificativas precaucionais, diante da enorme incerteza sobre a taxa de desemprego. Na medida em que a economia começa a se estabilizar, essa incerteza diminui e o consumo pode se normalizar, mesmo com aumento do desemprego por alguns trimestres”, diz o relatório do Bradesco.

Que a “ponte” está lá, é fato. Se outros terão motivos suficientes para encará-la, ainda não sabemos. Mas alguém já partiu buscando um atalho para a recuperação da economia. 
Fonte:http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/ponte-do-bradesco.html