Ter uma renda extra, proveniente do aluguel de duas ou três casas, foi
a meta que Enilson Moreira, ainda jovem, estabeleceu para alcançar
antes de completar 40 anos. O que ele não imaginava é que, tempos
depois, de fato viveria apenas do aluguel. Mas não de casas. Sua
atividade seria alugar geradores de energia. Em 1989, quando tinha 33
anos, montou uma empresa no segmento. Hoje, “A Geradora”, nome com que
Moreira batizou sua empresa, é uma das 100 maiores do mundo de locação
de equipamentos, de acordo com o ranking divulgado em agosto pela
revista International Rental News. Neste ano, A Geradora irá faturar
R$ 190 milhões, montante que supera em 36% os números de 2010.
- O que você precisa ler antes de abrir seu negócio
- Veja notícias sobre empreendedorismo em Seu Negócio
Abrir uma empresa de locação de equipamentos foi uma ideia que Moreira
alimentou por bastante tempo. Assim que terminou a faculdade de
Administração, no Recife, foi viver em Salvador, onde trabalhou, por
13 anos, numa fabricante de geradores de energia. Em seu contato com
os clientes, no entanto, percebia que muitos preferiam alugar o
equipamento, ao invés de comprá-lo. “Normalmente precisavam do gerador
por um período, apenas durante uma obra”, conta. “Percebi então que
alugar, em vez de vender, poderia ser um bom negócio.”
Foto: DivulgaçãoAmpliar
O empreendedor Enilson Moreira: o sonho de viver de aluguel o fez
criar uma das 100 maiores empresas de locação de equipamentos do mundo
Com um colega da mesma empresa, partiu para o novo desafio. Ambos se
demitiram e compraram três geradores usados, com um desembolso que,
nos dias de hoje, seria equivalente a R$ 50 mil. “Aproveitar as
oportunidades que o mercado oferece é a chave do sucesso de um
empreendimento”, diz Carlos Freitas, diretor-presidente da Vector
Consulting. “Às vezes, a oportunidade está na frente do empresário.”
Moreira e seu sócio, Celso Reis, transformaram a oportunidade numa
companhia que hoje oferece 10 mil itens a seus clientes. Os geradores
de energia continuam sendo o carro-chefe. Somados, diz Moreira, geram
450 mil kVA de energia, volume suficiente para iluminar uma cidade de
médio porte. Mas a carteira de produtos também conta com equipamentos
que vão desde ferramentas leves, como motobombas e serras de piso, até
torres de iluminação, passando por compressores de ar e plataformas
aéreas, por exemplo. Além de alugá-los, a empresa presta serviços de
manutenção, enquanto operam no cliente.
É óbvio que, para atingir esse porte, Moreira e Reis enfrentaram
desafios. “As dificuldades foram mudando gradativamente”, afirma
Moreira. A primeira delas foi de ordem cultural. Não havia muitas
empresas locadoras de geradores quando se lançaram ao negócio - e as
que existiam estavam no Sudeste. “Foi preciso criar a cultura do
aluguel”, afirma Moreira. Para isso, a cada contato com um possível
cliente, buscavam convencê-lo de que, se comprasse um equipamento para
determinada obra, seria um investimento grande para um período curto
de uso, nem sempre justificando o desembolso. Afinal, para a obra
seguinte, poderia ser necessário um equipamento melhor, maior ou
menor.
Essa explicação era seguida por outra, de ordem contábil. Moreira diz
que a compra de um equipamento virava um ativo imobilizado no balanço
da companhia. Já o aluguel, virava despesa. “Era melhor para o
cliente”, diz.
Apesar do empenho em vender, os resultados tardaram a vir. Moreira
estima que ele e o sócio não fizeram nenhuma retirada nos primeiros 18
meses de operação. “Reinvestíamos tudo”, afirma. Mas essa era uma
atitude previamente acordada entre ambos. Moreira tinha uma poupança
equivalente a um ano de trabalho. Reis, por sua vez, tinha 54 anos na
época e já era aposentado. “Como tínhamos reserva de dinheiro, não
dependíamos do negócio”.
Leia também:
Cresce a sobrevida de pequenas empresas
Empreendedorismo do Brasil supera o dos grandes
Empreendedorismo social quer conquistar os jovens
Divisor de águas
Veio o ano de 1991, que foi o divisor de águas na história da empresa.
Triplicaram de tamanho em um único mês. Com as obras da Linha Verde,
rodovia que liga a Bahia a Sergipe pelo litoral, foram contratados
pela Odebrecht, que alugou 20 geradores. A boa notícia, contudo, veio
acompanhada de um desafio: na época, A Geradora tinha apenas oito
geradores, e todos estavam alugados. Para atender a construtora,
Moreira e Reis correram atrás de empréstimos, linhas de financiamentos
e até crédito do antigo empregador para conseguir atender o contrato,
de dois anos. “A partir daí, as coisas tomaram novos rumos”, afirma.
Deram início à expansão de portfólio e de presença geográfica, com a
abertura da primeira filial, no Recife, em 1994. Anos depois, chegaram
a outras capitais do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste,
totalizando as 18 filiais que possuem hoje, com 900 funcionários. Ao
mesmo tempo, passaram a atender, além da construção civil, indústrias
e as áreas de mineração, óleo e gás, agronegócio, entretenimento,
comércio e serviços, além de infraestrutura, que atualmente responde
por cerca de 50% do faturamento da empresa.
Em 22 anos de história, a empresa de Moreira e Reis sobreviveu a
diferentes crises, pacotes econômicos e moedas. Entre eles, o Plano
Real, em 1994, que coincidiu com a abertura da primeira filial. “Foi a
melhor coisa que podia ter acontecido”, diz Moreira. Com a URV (sigla
de unidade real de valor, índice adotado nos primeiros meses do plano
com o intuito de refletir a variação do poder aquisitivo), havia
correção diária da moeda. “O valor não era corroído pela inflação, e
isso foi importante para o nosso crescimento”, afirma.
Foto: Divulgação
Moreira em 1989: ganhando dinheiro até com o malogrado bug do milênio
A expansão da empresa também foi favorecida com o bug do milênio,
espécie de apagão nos sistemas informatizados que era esperado na
virada de 1999 para o ano 2000. Não se concretizou, mas o receio
instalado na época, conta Moreira, fez com que faltassem geradores de
energia no País inteiro. “Fornecemos equipamentos para agências
bancárias do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste”, diz. Essa
situação, afirma, foi similar à crise de energia, nos anos de 2001 e
2002.
Essas oportunidades também trouxeram “ressacas”, diz. Ou melhor, mais
concorrentes, que aproveitavam essas brechas para entrar ao mercado.
“Mas sempre as empresas estruturadas se saíam melhor”, diz Moreira.
O teste do crescimento
Eventos como esses de fato contribuem para a expansão das empresas,
conforme observa Freitas, da Vector Consulting. “O mercado em
crescimento abre a porta para muitas empresas”, diz. Porém, também as
testa. “Mas só ficam as que são bem geridas e que possuem um sólido
planejamento.” Desde 2003, A Geradora vem apresentando crescimento
médio de 47% ao ano, de acordo com Moreira, em função sobretudo do
setor de infraestrutura, muito demandado nos últimos anos. Para ele, o
cenário será mantido por conta da Copa do Mundo, em 2014, e da
Olimpíada, em 2016.
Leia mais:
Jovens e donos do próprio negócio
Empreendedor faz carreira antes de abrir negócio
Brasil tem apenas 2% de empresas empreendedoras
As lições de inovação de Steve Jobs
Continuar o ritmo de expansão da companhia, afirma, tem sido o desafio
atual. “Não conseguimos gerar caixa para sustentar esse crescimento”,
diz. “Somos uma empresa de capital intensivo, com um portfólio amplo,
formado por máquinas”. Já vinham procurando linhas de crédito, como o
Finame (voltado a pequenas e médias empresas, para a compra de
máquinas e equipamentos), do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
Na busca por financiamento, Moreira e Reis chegaram até a pensar em ir
à Bolsa, abrindo o capital da A Geradora. Mas precisavam, antes,
preparar a empresa. “Tínhamos de ajustar a gestão e montar uma
estrutura de governança”, diz. Assim, optaram por uma etapa prévia,
recebendo um sócio estratégico. Abriram as portas para um private
equity, que desde o ano passado está na empresa, com a aquisição de
22% das ações. Moreira e Reis ficaram, cada um, com 33,84% do capital
social. E os 10,32% restantes foram distribuídos aos responsáveis
pelas filiais, transformando-os em sócios.
Nessa nova estrutura, Reis, hoje com 77 anos, passou a ser o
presidente do Conselho de Administração, que foi recentemente criado.
Moreira, aos 56 anos, foi nomeado diretor-presidente. Pretendem, no
próximo ano, inaugurar uma nova matriz em Salvador, num espaço maior
que o atual, além de fortalecer a presença no Sul do país, com a
abertura de filiais. Também cogitam a internacionalização, com
unidades no exterior a partir de 2013, provavelmente na América do Sul
e na África.
“Para ser empreendedor, paga-se um preço alto”, afirma Moreira. “É
preciso perseverança e estar convencido de que é uma causa justa, pois
terá de se dedicar totalmente a ela”. Mas logo emenda que “as
oportunidades passam apenas uma vez na vida da gente, e é preciso
aproveitá-las”.
Texto copiado da internet-
Nenhum comentário:
Postar um comentário