sábado, 14 de julho de 2018

Mais tolerância, menos sectarismo

por Nelson Rocha* — publicado 23/12/2017 00h01, última modificação 15/12/2017 17h07

Precisamos de mais tolerância com aqueles com maior necessidade, a fim de desfrutarmos harmonia e igualdade
Pixabay



Recebi de um amigo o texto de um artigo do jurista Ives Gandra Martins, publicado há cerca de quatro anos, que reaparece nas discussões acaloradas de redes sociais e grupos de WhatsApp, em face da abordagem que se associa pelo tema à recente divulgação do vídeo do jornalista William Waack.
Diz Ives Gandra: ‘Não sou nem negro, nem homossexual, nem índio, nem assaltante, nem guerrilheiro, nem invasor de terras. Como faço para viver no Brasil nos dias atuais? Na verdade, eu sou branco, honesto, professor, advogado, contribuinte, eleitor, hétero... E tudo isso para quê?” Na semana anterior, o jornalista William Waack em vídeo divulgado recentemente, mas gravado há cerca de um ano, fez a seguinte declaração: “Sabe quem é, né? Preto, né!? Isso é coisa de preto, com certeza”. A Rede Globo imediatamente afastou o jornalista e emitiu nota em que declara que “é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações” e que em “nenhuma circunstância pode servir de atenuante (...)Waack, contrariado, faz comentários, ao que tudo indica, de cunho racista(...)”.
Ao que tudo indica? Como Ives Gandra, sou branco, heterossexual, de origem europeia, e tive a sorte de ter uma boa educação pública que me permitiu conquistar um lugar ao sol, coisa que a maioria do povo negro, índio, nordestino não teve, não recebo nenhum benefício de governo, e nem por isso me sinto incomodado de viver no Brasil. Os guerrilheiros a que ele se refere lutaram num momento difícil da vida brasileira e muitos morreram para resgatar a democracia sob a qual a liberdade de expressão de hoje lhe permite emitir opinião. Por que ultimamente a intolerância tem mostrado a sua cara com maior fervor? A humanidade, na medida em que evolui, deveria inversamente reduzir a intransigência, o sectarismo, o preconceito, mas não é o que temos visto nos últimos tempos.
Não conseguimos fazer aflorar nos corações das pessoas a compreensão para as diferenças e fazê-las perceber que as políticas voltadas para os grupos minorizados são voltadas para as pessoas desprotegidas socialmente, e existem porque esses mesmos grupos foram excluídos ao longo da nossa história. Quando se segrega desde o berçário, por questões de raça, de origem, de classe social, estabelecem-se desde logo obrigações futuras de toda a sociedade, porque lhes será negado o direito às oportunidades iguais.
Segundo pesquisa do Instituto Ethos em 2016, pessoas negras só ocupam 6,3% dos cargos de gerente e 4,7% dos executivos nas empresas. As oportunidades foram as mesmas? As políticas sociais de compensação surgem por conta disso, não têm como objetivo privilegiar um determinado grupo, mas tentar minimizar as perdas que esse ou aquele mesmo grupo tiveram, não se trata de compensação pecuniária, mas de políticas públicas capazes, ao longo do tempo, de estabelecer oportunidades iguais para todos.
Como constitucionalista, o advogado Ives Gandra deveria ter abordado também em seu artigo o capítulo da nossa Carta Magna que trata da Assistência Social, que dispõe que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, regulamentada com a LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social em 1993. Como professor, deveria dar exemplo e não se posicionar dessa forma, a meu juízo, absurdamente irresponsável. Ao invés de sectarismo, precisamos de mais tolerância com aqueles com maior necessidade, a fim de desfrutarmos harmonia e igualdade.
Copiado do site: https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-socio/mais-tolerancia-menos-sectarismo

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